Maldição Medieval - Capítulo 1 - Parte 02

 




CAPÍTULO 1 - PARTE 02


NOITE DE TERROR

Após presenciar a luta, a filha do senhor feudal se aproximou. A surpresa estampada no rosto ao ver pela primeira vez o homem pelo qual já estava apaixonada. Era o terceiro encontro. Mas apenas ouvira a voz dele vindo das sombras das árvores.

“Então, tu és real?”

 Ele tirou o elmo que protegia sua cabeça. Então ela tocou os longos cabelos loiros dele.

“Sim, igual a ti.” Disse ele, inclinando-se para beijar-lhes as mãos. 

Depois, voltou-se para o corpo do sentinela.

 “Eu não pretendia tirar-lhe a vida, mas ele não me deu outra escolha.”

Ela estava tão deslumbrada que não percebeu o valor da vida. Então, disse: 

“Meu pai possui um exército de homens, Blasco.”

“Ora, então não esqueceste o meu nome?” Perguntou ele.

 Ela deu uma risada marota, dizendo:

“Não! E tu, esqueceste do meu?”

“Jamais, Lana. Como eu poderia esquecer o nome de alguém tão especial?"

Eles passeavam de mãos dadas sob a luz tênue da lua cheia. Depois, sentaram-se na relva diante de um lago. Lana sentia-se cada vez mais atraída e segura ao lado dele. Entretanto, se pudesse ler os pensamentos sombrios de Blasco.

Olhou fixamente nos olhos dele e sussurrou:

 “Tu me contarás agora sobre como eu serei imortal?”

 Ele abraçou Lana e a beijou profundamente. Depois, girou o corpo em direção à lua. Voltou-se a ela novamente, dizendo:

“Antes de revelar o segredo, queres ouvir um novo poema?”

“Oh, meu amado!” Agora... e sempre.

Mal sabia ela que seria o último poema de um ser enganador.

 Então, ele se ergueu e começou a declamar com gestos e expressões faciais. Mas toda a dramaticidade era mais perceptível na voz marcante, misteriosa e gutural, algo de gelar o sangue nas veias.

 “No silêncio eterno dos tempos imortais,

Onde as estrelas dançam em planos abissais,

Vive um sonho sussurrado, suave segredo.

De vidas que nunca encontram o fim do enredo.

 Em ecos de glórias que jamais se apagaram,

Caminham almas que nunca vacilaram.

Fugindo ao abraço da sombra final,

Guardando nos olhos um brilho ancestral.

 

Flores que desabrocham em jardins perpétuos.

Renascem em ciclos, sem laços ou pretextos.

Enquanto os rios correm, nunca cansados.

Por campos verdes, eternamente renovados.

 

E assim, no laço infinito da imortalidade,

Ecoa a sinfonia da eterna liberdade.

Onde o tempo, domado, se curva e se rende.

Aos passos imortais, que nunca mais se prendem.”

 

Após recitar o poema, Blasco deu uma risada sinistra. Seus olhos destilaram maldade extrema. O semblante mudou. Os olhos castanhos se tornaram vermelhos e luminosos. Entretanto, na boca dele é que podia-se ver algo inimaginável. Os dentes se tornaram pontiagudos, deformando a mandíbula.

Lana percebeu imediatamente. Não teve reação, o medo a deixou paralisada.

“Por favor... não me faças nenhum mal!”

Se ela tivesse sido a escolhida, apenas uma mordida seria suficiente. Mas, definitivamente, ela não estava nos planos de Blasco. Lana era uma filha mimada de um senhor feudal, vivendo nas futilidades de uma vida efêmera. Assim como tantas outras mulheres da nobreza do feudalismo, não havia nela o brilho da dor de viver. Lana não refletia absolutamente nada. 

Assim eram também as mulheres camponesas. A maioria delas prestava serviços sexuais aos nobres em troca de mais conforto e outros privilégios. Enfim, Blasco procurava uma mulher de visão diferenciada e com uma dor e apetite insaciáveis não só para se manter imortal, mas para fazer a grande revolução em um futuro ainda distante. 

 



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