O Enigma da Pantera - Capítulo 4 - Parte 01



 CAPÍTULO 4 - Parte 01

 

DE VOLTA AO PASSADO 

Na época, eu era um jovem detetive. Ao receber um telefonema do delegado Raul solicitando os meus serviços, eu chegava, finalmente, a Tocantínia, pequena cidade inserida nesta grande região. Já não o via há alguns anos, e ficamos muito felizes ao nos encontrarmos. 

Sentado próximo à sua mesa de trabalho na pequena sala da delegacia, com o dedo indicador de sua mão direita, ele apontava para alguns pontos num mapa e me dizia:

"As mortes têm ocorrido principalmente neste trecho que fica entre algumas fazendas, Ricardo." 

Ergui-me para ver melhor. Em seguida, perguntei: 

"Sempre nas imediações do riacho, hein?" 

Ele balançou a cabeça, confirmando:

"É o que tenho percebido. Depois da morte do Luisinho e seus amigos, pelo menos mais três pessoas tiveram, também, o mesmo fim. Houve uma pausa de cerca de um mês, se me recordo bem. Mas, ontem, aconteceu outra vez." 

Pensativo, sentei-me outra vez. Fixei o olhar nele e indaguei: 

"O que os fazendeiros acham de tudo isso?" Estão divididos. Porém, a maioria pensa que as onças é que são a causa das mortes." 

"Então, têm onças nas serras?"

"Sim." 

"O Sr. já conhece todos os fazendeiros daqui?"

"Quase todos, Ricardo." 

"Gostaria que me desse alguns nomes, principalmente daqueles que possuem suas fazendas nas imediações do riacho."

"Disse eu, levantando-me." 

Impressionado com a minha disposição, o Dr. Raul perguntou: 

"Mas não está cansado, Ricardo?" Olhe, de São Paulo até aqui é chão que não acaba mais." 

"Estou me sentindo bem. Só quero que me arranje um guia." O delegado chamou um jovem policial para me acompanhar."

"O Júnior irá com você, pois conhece muito bem a região." Ele me acompanhou até a saída. Já na parte externa da delegacia, olhei para ele e o indaguei: 

"Só para sanar uma dúvida, delegado Raul, acredita mesmo que foram as onças?" Ele alisou as pontas do espesso e comprido bigode, pensativo. Sorri. Conhecia-o muito bem: ele estava confuso.

"Se tivesse certeza, Ricardo, você não estaria aqui. Mas, o fato é que pressinto algo de muito estranho nesta história toda." 

"É o velho faro de policial?"

"Sim; mas o teu é mais aguçado, Ricardo, algo que causaria inveja até no lendário Sherlock Holmes." 

Achei graça. E falei:

"O Sr. é um exagerado. Mas, de qualquer maneira, estou aqui para o que der e vier. E, dentro de minhas possibilidades, ajudá-lo no que for preciso." 

"Como nos velhos tempos lá em São Paulo, hein? Lembra-se dos casos difíceis que resolvemos, meu jovem?"

"Claro. É impossível esquecer. Mas, mudando de assunto, há quanto tempo está morando aqui?" Ele pensou um pouco, depois falou:

"Um ano e dois meses. E quer saber de uma coisa, Ricardo? Não saio daqui por nada deste mundo. É um lugar maravilhoso para se viver. Se não fossem os últimos acontecimentos, não teria com o que me preocupar."

"Compreendo. Mas tudo se resolve." 

"Assim espero, Ricardo." 

Despedi-me dele e me dirigi ao veículo que estava estacionado em frente à delegacia. Logo, eu dirigia pelas ruas da pequena e pacata cidade. Pouco depois, por uma estrada poeirenta e cheia de buracos, já num trecho rumo às fazendas. Era um descer e subir de ladeiras quase constantes. 

Em alguns trechos da precária estrada, nos pontos altos das serras, ela ia estreitando e tornando-se perigosa; o que requeria de mim redobrada atenção e habilidade. Qualquer erro de cálculo poderia ser fatal; pois à minha direita e à esquerda só havia um vazio: despencar dali seria morte certa! 

Havia, também, pontes estreitas ao longo da acidentada estrada, algumas já desgastadas pelo tempo. Entretanto, a beleza selvagem do vale do Lajeado impressionava-me bastante, o que compensaria aquele pequeno sacrifício...

 

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