O Enigma da Pantera - Capítulo 5

 



CAPÍTULO 5

ACERTO DE CONTAS

 

A relva serpenteava sob a força do vento. Ao mesmo tempo, um cavalo galopava ao longo de uma estreita trilha, na qual ainda se podia vislumbrar uma fina camada de areia muito branca cobrindo-a naquele fim de tarde. De vez em quando, o cavaleiro afastava-se, enveredando-se pela savana rala. Com arrojo, desviava-se habilmente de galhos e árvores que surgiam à sua frente. Depois, retomava o caminho habitual. Fez isso por diversas vezes.

Evidentemente, tratava-se de uma tática para ganhar tempo, demonstrando assim o quanto estava com pressa. Transcorrido um certo tempo, ele enxergou um casebre perdido na imensidão do cerrado. Bem ao longe, ainda era possível vislumbrar as serras. Entretanto, aos poucos, o fascinante crepúsculo daquele entardecer ia sendo superado por uma penumbra que envolvia de maneira uniforme todo o vale. Parando, então, a vinte metros do local, desmontou.

Prendeu o cavalo numa árvore e prosseguiu caminhando. Assim, é lógico, não despertaria a atenção de quem estivesse na casa. Ao chegar, adentrou-se em seu interior sem fazer ruídos. Parou diante de uma porta rústica de madeira. Ouviu gemidos e... Então, enlouquecido de ciúme, meteu o pé na porta, escancarando-a. E, após entrar em um pequeno quarto, ficou perplexo. Em uma cama, havia duas pessoas despidas.

Quando a porta se abriu, ambos se voltaram, convergindo seus olhos arregalados para o recém-chegado. O que, há alguns minutos, era prazer, agora se tornava motivo de perplexidade, vergonha e medo. Definir o susto em seus rostos pálidos seria impossível! Instintivamente, a mulher se afastou de seu amante, constrangida. O inesperado visitante, um homem gordo e de aparência vulgar, trazia estampada no rosto uma fúria indomável, além de uma grande cicatriz, o que o deixava ainda mais sombrio.

Por alguns momentos, a dois passos da cama, fustigou em silêncio os dois amantes com um olhar frio. Depois, com fingida calma, porém com extremo sarcasmo, interrompeu o tenso silêncio no ambiente.

"Que flagra, hein!"... Mas, tudo que é bom... dura pouco."

Dito isso, sacou um revólver que estava escondido entre a calça e a camisa azul desbotada. A mulher, como já deu para perceber, era sua esposa. Desesperada, atirou-se aos pés do marido traído. De joelhos no chão de terra batida, com lágrimas escorrendo pelas faces morenas, exclamou chorosa:

"Perdoa a gente, Raimundo!"

"Agora não adianta chorar... cadela vadia!"  

Ela, além de ser leviana, era uma mulher esperta. Percebendo que as lágrimas não eram suficientes, sofisticou a tática. Sem pensar duas vezes, jogou sujo! Assim, olhando para o assustado rapaz com o qual gemia de prazer minutos antes, acusou-o:

"Esse... esse desgraçado me forçou, Raimundo. Ele disse que ia me matar se..."

Sem concluir a frase, caiu em prantos. Raimundo, convencido pela astuta mulher, convergiu o seu ódio apenas no rapaz.

"É verdade, Pedro?... Vamos, fala, maldito! Ordenou em tom áspero."

Pedro não aparentava ter mais de dezenove anos. Apesar de estar com os nervos à flor da pele, balbuciou:

"Ela está mentindo, Raimundo... Foi ela que se ofereceu e..."

Na tentativa de se defender, só piorou a situação, que estava crítica!

Raimundo não deixou que ele concluísse, mas o interrompeu dizendo:

"Cale a boca, seu infame! Você não vale nada mesmo."

"Mas eu..."

Não estava disposto a ouvi-lo mais. Com desdém e frieza, interrompeu outra vez o aflito rapaz:

"É melhor se vestir, pois nós vamos terminar esta conversa lá na beira do lajeado."

Ele, humildemente, obedeceu. Sabia que estava perdido, pois o conhecia muito bem. Ambos trabalhavam numa fazenda da região. Assim, sob a mira do revólver, foi forçado a sair. Antes, porém, lançou um olhar inquiridor a Maria. Todavia, ela não o encarou; apenas se limitou a abaixar a cabeça com um sorriso cínico, porém dissimulado. Naquele instante, sentiu vontade de esganá-la!

Logo, da porta de saída do casebre, ela os viu se afastando por uma trilha na vegetação do cerrado até ficarem fora do alcance de seus olhos matreiros. Sabia que Raimundo não o pouparia, entretanto, estava viva! E isso era o que lhe importava. Com certeza, continuaria a traí-lo. Trair não era apenas um capricho de sua vaidade, mas também uma necessidade... ou uma fraqueza difícil de ser superada. Percorridos cerca de quatrocentos metros, enxergaram o lajeado. Ali, o impasse teria um desfecho surpreendente! Assim, Raimundo, sempre com o revólver apontado para as costas de seu desafeto, o impeliu a descer uma ladeira.

Já nas margens do riacho, ficaram frente a frente. Raimundo fixou seus olhos nele.

"É assim que você me agradece, Pedro?"... Arranjei um emprego para ti e..."

"Você está enganado, A Maria estava me perseguindo." Eu até procurei evitar. Ela não presta, Raimundo!"

Protestou o outro para tentar explicar o inexplicável.

"Agora chega!" Gritou o outro, enfurecido.

E, após uma breve pausa, quebrou o silêncio em tom sarcástico.

"E aí... está preparado?"

Pálido e suando frio, Pedro compreendeu a mensagem: sua morte estava próxima! Não havia mais argumentos. Além disso, sabia que ele já matara antes. Então, jogou a última 'carta': ajoelhou-se aos pés de Raimundo.

"Por favor... não faça isso comigo, homem!" Eu te imploro... ", dizia ele, quase chorando.

Seus olhos buscavam a misericórdia no olhar frio do outro. Raimundo desconcentrou-se por um instante. E isso custou-lhe muito caro. Rápido e sorrateiro como uma cobra-cascavel, Pedro projetou-se sobre ele, segurando-lhe as pernas e fazendo-o cair no chão úmido da margem. Logo, atracados como feras selvagens, rolavam arquejantes pelo chão...

Já era noite. No alto, lá estava uma vez mais a lua cheia, clareando de maneira tênue o cenário da luta. Ao mesmo tempo, a batalha corporal entre os dois homens ia se tornando dramática! Pedro segurava o pulso direito de Raimundo, forçando-o para o lado. Dessa maneira, evitava ser alvejado pelos disparos do revólver.

Pedro, impiedosamente, desferiu-lhe mais dois golpes. Esses, entretanto, são letais! Pálido e com uma expressão estranha nos olhos, Raimundo olhou o seu algoz. Dos orifícios em seu corpo, jorrava o sangue vermelho. Antes de vê-lo tombar, ainda zombou em tom cínico:

"Não precisa se preocupar com a Maria, tá?"... Vou cuidar dela para você."

Tais palavras lhe acrescentaram mais dor, além da já provocada pelos ferimentos. Assim, com a morte em seu rosto, tombou para o lado com um gemido rouco.

O outro ergueu-se triunfante. Lançou um olhar para o corpo inerte de Raimundo. Não sentiu remorsos. Parecia estar olhando para um animal sem vida. Depois, dirigiu-se ao riacho. Como se fosse um ritual, lavou a comprida faca demoradamente até deixar a lâmina reluzente como antes. Logo em seguida, mergulhou sua cabeça na água límpida. Ainda estava arquejante. Porém, de repente, algo o deixou em estado de alerta. Refletida na água muito transparente e em movimento contínuo, ele vislumbrava a sua imagem tremulando de maneira indefinida. No entanto, ao lado dela, uma outra imagem se formou. Girou o corpo e...

— Quê! Você por aqui?!" Exclamou surpreso.

Diante dele, estava Maria. Com uma expressão de preocupação, disse gesticulando:

"Graças a Deus, você está vivo, Pedro." Quase morri de medo quando ouvi os tiros."

Ele a olhou com desdém.

"Dispenso a tua preocupação. E não pense que esqueci o que me disse lá no rancho!" Concluiu com raiva.

"Ah!"... Pedro, meu amor. Nem sei por que falei aquilo... Estava com muito medo."

Além de ser esperta e bonita, sabia seduzir e enlouquecer um homem. Ele sentiu vontade de trucidá-la com as mãos. Mas se deixou dominar por aquela mulher demoníaca. Deslizando as mãos pelo corpo dela, ordenou ele, excitado:

"Tira a roupa!"

Ela deu uma risadinha maliciosa. Depois, relanceou um olhar para o corpo de seu ex-marido e, num gesto de desprezo, cuspiu no chão. Em seguida, voltou-se para Pedro novamente, já se livrando do vestido.

"Vem, meu amor, que te quero em meu corpo!"

Mas, ao mesmo tempo, em meio à sombra da vegetação adjacente, olhos desejosos de sangue e carne humana fixavam-se neles. Impassíveis, esperavam o momento certo.

 

 

 


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