O Enigma da Pantera - Capítulo 6

 



CAPÍTULO 6


RECORDAÇÕES

 No dia seguinte, ao receber um recado no hotel, dirigi-me à delegacia de Tocantínia.

"Bom dia, Dr. Raul!"  cumprimentei-o ao adentrar na sala.

" Bom dia, meu jovem. E me desculpe por acordá-lo tão cedo." Dizia ele por trás de sua mesa de serviço.

" Estou aqui para trabalhar. Afinal, foi para isso que me contratou." 

Pela expressão de preocupação visível no rosto dele, senti logo o cheiro de encrenca.

"Problemas?" Indaguei. 

Ele confirmou com um movimento da cabeça. Depois, começou a me explicar: 

"Agora há pouco, Ricardo; esteve aqui uma pessoa. Disse-me ter visto três cadáveres na beira do lajeado."

Enruguei o rosto intrigado. E falei:

"É... a coisa está complicando, hein?"

"Sim. Vamos ao local?" 

"Segundo as informações que me foram passadas, fica próximo a.uma ponte nas imediações da fazenda de Jairo Pereira." Disse ele levantando-se da cadeira. 

Levantei-me também. Percorremos alguns quilômetros. Atravessarmos uma comprida ponte de madeira. O delegado Raul finalmente interrompeu o motor de sua velha caminhonete vermelha. Olhou para mim e disse:

"Só pode ser aqui, Ricardo. Pois fui avisado de que os corpos estão num trecho próximo à fazenda do Sr. Jairo."

Instantes depois, embrenhávamos-nos pelo mato. Quando chegamos às margens do lajeado, presenciamos algo que nos deixou perplexos!

"Que carnificina!" Exclamei com visível espanto.

"Não é a primeira vez que vejo isso. Entretanto, ainda não me acostumei..."
 "É, realmente, uma cena terrível!" Concluiu o delegado.

"Ei! Aquele foi o único que sobrou inteiro" - exclamei.

Fixei meus olhos no cadáver que estava estendido de bruços no chão. 
Caminhamos alguns passos até chegar a ele.

Já próximo ao corpo, o delegado Raul me pediu, ao mesmo tempo em que se inclinava:
"Ajude-me a virá-lo, Ricardo!"

Feito isso, ele estudou a fisionomia cadavérica. Depois voltou-se a mim, dizendo:  "Já vi este homem, Ricardo. Tenho certeza. Se não me engano, ele trabalhava para o fazendeiro Jairo."

"É o dono daquela fazenda?" Perguntei, apontando para os verdes pastos ao longe, nos quais se via o gado pastando em terreno delimitado por arame farpado. 

Ele confirmou, acenando com a cabeça.
"Quase passei lá ontem," dizia eu. Mas, como já estava um pouco tarde, acabei desistindo."

"E na fazenda de José Pires, esteve lá ontem? " Perguntou ele.
"Sim; foi uma visita bem rápida. Recebeu-me muito bem. Está muito preocupado com os acontecimentos."

"É, ele tem toda razão, meu jovem."
Desviamos o olhar para os outros corpos, que estavam trucidados em meio a muito sangue. Entretanto, estavam próximos um do outro. Notamos  que estavam despidos.
Apesar de estarem faltando algumas partes, deu para perceber que tratava-se de um casal. 

Assim que examinamos o corpo bem à nossa frente, conjecturamos sobre a causa da  morte. Era o único que estava intacto.

Só havia nele vários orifícios provocados possivelmente por um punhal. Próximo a ele, havia um revólver, algo que me permitiu algumas deduções. Então, após refletir um pouco, comecei a expor ao delegado Raul o que eu pensava:

"A história é a seguinte: houve uma luta entre estes indivíduos... e aquele que está estraçalhado alí levou a poor, mesmo tendon uma arma de fogo.

"E a mulher... seria o motivo da briga? Perguntou o delegado com uma expressão de curiosidade no rosto que me fez sorrir.
"Pois é...  como diz o ditado: mulher dos outros tem gosto de chumbo, meu caro Dr. Raul."

Fixei o olhar nos outros corpos ,a cerca de cinco metros a nossa frente, e perguntei:

"E o casal... por acaso já os viu antes?"
Após alguns segundos, ele respondeu:
"Estão bem desfigurados... Entretanto, não me parecem estranhos. Certamente são da região."

"É bem provável que a mulher fosse casada com este aqui." Disse eu.
" Sim, mas teve o azar de ter sido flagrada com o outro, Ricardo."
Ficamos pensativos por alguns segundos. Depois interrompi o silêncio dizendo:
"O resto da história não está difícil de compreender."

Caminhei de um lado a outro, gesticulando e falando ao mesmo tempo, para enfatizar melhor. 

"Enquanto os dois curtiam seus últimos momentos de prazer, uma ou duas onças se aproximaram e...
”Acabaram com a diversão, pois precisavam se alimentar." Comentou ele me interrompendo.

"Não seria a dedução lógica, Dr. Raul?
Ele riu, achando graça de meu tom irônico.
"Mas, como te conheço bem, você não está convencido."

"De que este estrago todo foi causado por onças famintas?"

Sim, seu espertinho. Pode ter sido outro animal."
Fixei o olhar nele:
"Sabe ,delegado. Um passarinho entrou pela janela de meu quarto, e me confidenciou algo"
"É mesmo? Por acaso, é sempre aquele que te ajuda resolver todos os casos estranhos como este?"
"Se ele não estiver mentindo."

Ele apoiou a mão no meu ombro:
"Você é formidável, meu rapaz. Agora. 
Vamos até a cidade, temos que providenciar a remoção destes.
Corpos.
"Façamos assim, eu o espero aqui; deste modo evitaremos a presença de curiosos... ou de algum animal que.venha  mexer nos cadáveres."
Ele aprovou a ideia.

'Concordo. Daqui a pouco retornarei"
disse ele, já se encaminhando ao local no qual deixara seu veículo.

Instantes depois, eu ouvia o barulho de sua caminhonete já atravessando a ponte a cerca de cinquenta metros à minha direita.
Avancei alguns passos até a água cristalina do lajeado. 

No céu azul, o sol já brilhava com suas cascatas de luz em todas as direções. Enquanto esperava o retorno do delegado Raul, comecei a divagar nas minhas recordações não muito distantes...

A velocidade e o intenso barulho de água em movimentome impressionava. No fundo do leito, vi  peixes equenos e médios se movendo freneticamente em todas as direções.

A visibilidade permitida pela transparência da água era formidável. Agachando-me, molhei as mãos. Depois, fui me sentar junto a uma árvore próxima às margens. Já eram cerca de oito e meia daquela bela manhã.


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